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sexta-feira, 29 de abril de 2011

I in U / Eu em Tu

Começo com uma vernissage.
Laurie Anderson
Musicista americana, violinista, performista, artista experimental. E também, a título de curiosidade, esposa, companheira ou parceira de Lou Reed.
Laurie fez várias performances em Nova York, e agora veio ao Rio, mais especificamente para o CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil) e eu fui lá.
Inaugurando a exposição I in U / Eu em Tu, a diva moderna (e com isso quero dizer moderninha) mostrou seus dotes violinísticos montada em patins que, por sua vez, estavam montados em uma placa de gelo. O tempo da apresentação era o tempo do gelo derreter.


A exposição, logo de cara, é uma mistura de pinturas, desenhos, fotografias, instalações, tudo envolvido por muitos sons! Sons que saem das paredes, dos fones, da mesa. Aliás, a primeira obra, que se encontra logo no hall do CCBB, é uma grande mesa redonda, que serve para ouvir! Você senta, apoia o cotovelo, com as mãos no ouvido e... escuta!

Paredes de desenhos que lhe convidam a participar de uma narrativa, através do som. É só encostar o ouvido, ouvir, olhar, imaginar. Outra opção é entrar em uma sala escura e se deparar com a própria Laurie, em imagem ou áudio, contando uma história, fazendo uma performance.

Se até aí a exposíção é legal, espere até chegar aos grandes objetos mágicos de Laurie Anderson (como eu os classifiquei)! A partir deles, tudo vira uma montanha russa de emoções que pareciam estar destinadas a me chacoalhar. Quando percebi foi tarde. Caso não houvesse em mim um pouco de racionalidade, estaria chorando até agora. Talvez tenha sido o espiríto radical desses artistas da geração de 70, talvez eles tenham poderes! Ou talvez tudo tenha começado quando encontrei "o livro". Essa obra é simplesmente sensacional: um manuscrito sobre sua própria leitura.

Quando você lê um livro, no que você pensa? Sério, sinceramente falando. Eu nunca tinha pensado nisso, mas normalmente quando leio um livro, penso no que estou lendo. Acontece que, em algum momento de sua vida, Laurie Anderson leu um livro pensando no movimento que fazia ao virar as páginas, em quais dedos usava para isso, nas bactérias que participavam desse processo, nas leis físicas que atuavam sobre a página que caia para o outro lado. Isso deu origem ao manuscrito, que no maior estilo Arnaldo Antunes, fala sobre essa atividade. É incrível. A relação que temos com o livro não é apenas subjetiva, sentimental, catártica, afinal, nós os colecionamos, prezamos pelo seu estado físico etc. E não nos damos conta dos movimentos que fazemos repetidas vezes, ao ler, e que são o que nos mantém em contato físico com o objeto livro, enquanto nossos cérebros estão em sintonia com seus conteúdos.

Saindo do livro e passando para os violinos: qual sua função? Fazer música? Permitir que alguém faça? O que seria do violino sem o violinista? E do violinista sem o violino? Violinos transformados em caixas de som ainda cumprem sua função? Mesas, como a do início, são instrumentos musicais?
Ahh, Laurie Anderson e a relação entre forma X função.

Além dos livros e dos violinos, tem os travesseiros, os passarinhos mecânicos e muitas outras coisas, mas me exaltei com essa história.

E, também, não vou contar mais o que me fez chorar até amanhã. Ou guiaria muito o olhar de vocês.

A exposição vai até dia 26 de Julho.




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